Depois de algum tempo sumida, resolvi voltar. Maio foi um mês esquisito. Entrei em um transe paralisante. Troquei meu antidepressivo e agora estou tomando um outro remédio pra turbinar a dopamina que insiste em fugir do meu organismo. Não estou 100%, mas quem está neste mundo frenético em que vivemos?
Conversei com algumas pessoas e percebi que realmente gostam de ler a minha fanfic de JayVik. É bom saber que a minha escrita agrada e que as pausas entre os capítulos são sentidas por alguém. Por isso, reuni forças pra voltar a escrever, ainda mais por se tratar do mês do orgulho LGBTQIA+. Eu amo esses personagens. Espero que vocês amem também ❤️🌈



A primeira arte acima é de @raccoonSSUU e a última de @geban88.
4º Capítulo: O mundo pelos seus olhos cor de mel
Semana passada, Jayce estava tão distante. Parecia que algo o preocupava, mas que não conseguia encontrar as palavras para traduzir seus sentimentos. Ou talvez ele não quisesse compartilhar suas dores comigo. Fiquei os últimos dias pensando nisso. Tenho pensado nele até demais. Será que estou maluco? Como nunca tive amigos, nem sei como uma amizade verdadeira se desenrola. Fico confuso, com uma mistura de sensações que nunca havia sentido antes.
Meu coração é tão complexo. Minhas inseguranças são tão constantes. Nunca gostei de mim, do meu corpo e da impressão que causo nas pessoas ao meu redor. Tento me esconder dos olhares alheios, mas não quero me esconder dos olhos de Jayce. Quero que ele me veja como sou, apesar das minhas imperfeições tão explícitas. Ele diz que sou especial, mas acho que é só a sua gentileza falando mais alto.
Mais uma vez, o sábado chegou. O melhor dia da semana desde o momento em que o encontrei pela primeira vez, quando nossos olhos brilharam na mesma direção. Prometi que mostraria Zaun pra ele, mesmo não conhecendo tão bem o mundo em que vivo. Sou limitado até nisso. Ainda assim, decidi mostrar essa cidade caótica e suja pelos meus olhos.
Antes de sair de casa, meus pais estavam discutindo mais uma vez sobre as contas e os problemas estruturais da casa, destilando ódio um contra o outro.
- Você é uma imprestável mesmo, mulher. Nem pra cuidar da casa direito você serve.
- Pior é você, que não consegue manter um emprego por causa desse seu temperamento infernal.
- Olha como fala comigo! Sou eu que mantenho essa casa nos eixos. Sem o meu dinheiro, você e esse moleque imprestável não seriam nada.
- Tudo gira em torno de dinheiro pra você, Ernest. Eu odeio tudo que remete a você. Só de olhar para o nosso filho… sério, não aguento mais.
Nessa hora, os olhos da minha mãe cruzaram com os meus. Senti as faíscas de raiva perfurarem cada centímetro do meu rosto. Eu sei que ela me odeia, mas quando fica nítido assim, eu acabo me quebrando ainda mais por dentro.
- O que você tá olhando, moleque? Isso tudo é culpa sua. Antes de você nascer, eu e seu pai éramos muito mais felizes. Não aguento mais olhar pra sua cara. Saí da minha frente.
Ela entrou no quarto dela batendo a porta com tudo. Eu só consegui olhar para o chão e segurar o choro, como sempre. Meu pai chegou perto de mim e falou:
- Melhor você ir dar uma volta por um tempo. Preciso aproveitar o sábado pra consertar essas goteiras no telhado e você só vai atrapalhar. Volte antes do jantar, senão vai se ver comigo.
Nem consegui responder. Peguei minha bengala e saí o mais rápido possível. Em momentos assim, tiro forças do além pra seguir em frente. Minhas pernas até parecem saudáveis. Qualquer lugar é melhor do que a minha casa, ao lado das pessoas que não suportam nem olhar pra mim.
Preciso afastar esses pensamentos. Ainda tá cedo pra encontrar o Jayce, mas terei de ir ao ateliê mais cedo, não tenho outro refúgio.
No caminho, resolvi parar na beira do rio pra colher algumas pedras e cascalhos. Tenho uma pequena coleção que precisa ser alimentada de tempos em tempos.
Passou um tempo, não sei quanto. Percebi que tinha alguém me observando. Não queria olhar pra descobrir quem era. Poderia ser alguém me julgando, como sempre. Minha perna chama a atenção mesmo parada, impressionante. No fim das contas, minha curiosidade falou mais alto. Quando olhei para cima, com os olhos quase em câmera lenta, encontrei o olhar de Jayce. Ele estava em cima de uma pedra, do outro lado daquele trecho raso do rio, olhando fixamente pra mim. Os olhos dele, com aquela cor de mel intensa, têm o poder de me encantar e perturbar ao mesmo tempo. Não falei nada, ele também não. Fiquei sem jeito, então resolvi levantar com o apoio da bengala e ser o primeiro a quebrar o silêncio entre nós:
- Ah, o-oi, Jayce. Não vi você chegar. Faz tempo que chegou?
- Err, s-sim. Quando cheguei, você já estava aqui colhendo as pedras e os cascalhos na beira do rio.
Eu estava ali, em pé, com cara de bobo pensando… por quê? Por que diabos ele ficou ali, quase uma hora depois de eu ter chegado aqui, só me observando? Jayce era tão misterioso. Não tenho coragem de perguntar o porquê, mas confesso que meu coração ficou agitado. Sentia cada pulsar, como se percorressem todas as veias do meu corpo. O que diabos estava acontecendo comigo?
Depois de algum tempo, Jayce simplesmente deu um pulo e correu para perto de mim, com aquele sorriso que derrete a rocha mais rígida.
- Resolvi vir mais cedo pra aproveitar mais o sábado com você. Não tive aula hoje e, como desculpa, disse pra minha mãe que iria praticar esportes com os colegas de classe. Não gosto de mentir, mas… não tenho outra alternativa.
- Entendo, ela não iria gostar de saber que você frequenta Zaun aos sábados. Ninguém gosta nem de pensar que essa cidade horrível existe.
Ficou um clima esquisito no ar, mas Jayce já cortou todas as nuvens cinzas ao segurar firme em uma das minhas mãos e dizer com aquela alegria contagiante:
- Vamos esquecer isso! Hoje é um dia especial, você vai me apresentar a sua cidade que, por mais problemas que tenha, ainda é seu lar. Quero conhecer tudo o que você conhece, bora?
Só consegui afirmar com a cabeça e sorrir de volta. Só ele consegue afastar as tempestades que rodeiam o ar que respiro.
Depois de deixar as pedras e os cascalhos no ateliê, aproveitando pra mostrar a minha coleção ao Jayce, seguimos pelos becos paralelos ao rio que corta a cidade. As ruas são bem escuras e sujas, mas Jayce sempre apontava para a natureza que tentava sobreviver em meio ao cimento vencido pelo abandono do governo de Zaun. Impressionante como ele consegue ver beleza em tudo. Queria enxergar o mundo pelos olhos dele.
Mostrei as principais ruas, as lojas de peças e antiguidades mais conceituadas, os restaurantes mais populares e os bares onde os mercenários ou caça-tesouros se encontravam. Perguntei se ele já tinha ouvido falar em Silco e Vander, os donos do pedaço, mas ele não os conhecia nem de nome. Impressionante como nossos mundos são tão distantes.
Entramos em uma loja de antiguidades, com ele me puxando em frenesi depois de ter visto na vitrine uma pedra azul parecida com o modelo que carregava em sua pulseira:
- Olha, Viktor! Essa pedra parece muito com a minha, né?
- Sim, também é tão brilhante quanto.
Jayce olhou para o meu olhar fascinado com o brilho da pedra azul. Nesse momento, ele olhou para o atendente e disse, apontando para a pedra:
- Pode embrulhá-la pra mim, por favor. É presente.
Fiquei olhando para o atendente sem entender o que estava acontecendo. Depois de embrulhar e receber o dinheiro, o atendente da loja inseriu um cordão de prata no buraco que cortava a pedra ao meio e colocou o tal presente nas mãos de Jayce, dando uma piscada e dizendo em tom alegre:
- Acho que a pessoa que ganhar esse presente vai gostar muito. Ela simboliza o cruzamento de rios turvos, a conexão de águas cristalinas e a mistura de minerais que normalmente não se misturam. É quase como uma história entre mundos diferentes que se conectam pelas semelhanças. Poético, né?
Jayce agradeceu, concordando, e saiu correndo segurando a minha mão livre da bengala.
- Calma, Jayce. Vou cair.
- Desculpa, desculpa. Acho que me empolguei. Vem aqui.
Jayce me conduziu para uma pequena viela entre a loja e um restaurante de esquina que ficava do outro lado. Me colocou contra a parede enquanto segurava meus ombros com as duas mãos e fitava meus olhos com intensidade. Tentei desviar o olhar, mas ele segurou meu queixo com firmeza e disse:
- Viktor, esse colar é pra você.
Quando pensei em responder algo, ele já foi colocando a joia no meu pescoço com toda delicadeza que encontrou em suas mãos visivelmente ágeis e fortes. Ouvi o fecho do cordão de prata e foi como música para os meus ouvidos. Depois de se voltar para mim, ele ficou me encarando mais uma vez. Meu coração estava em estado de erupção. Eu queria gritar, ao mesmo tempo que não sabia o que fazer. Só olhei de volta para os olhos dele.
Foi quando ele tocou o meu rosto com as duas mãos e só consegui fechar os olhos. Suas mãos percorreram a minha pele e os meus cabelos que insistiam em cair sobre as minhas pálpebras. Jayce tirou essas mechas que o impediam de me contemplar inteiramente e, em segundos que pareceram horas, ele me beijou. Seus lábios demoraram um pouco contra os meus, dominando a minha boca como se fossem os donos daquele espaço antes intocável.
Confesso que estava assustado e inebriado, mas correspondi mantendo os meus olhos fechados. Quando os abri, Jayce me encarava de forma amável e eu já estava completamente imerso naquele momento que, com toda certeza, seria inesquecível.
- Eu… eu não consegui me conter, Viktor. Tenho pensado muito em tantas coisas. Fico o tempo inteiro pensando em… você. Quis dar esse presente pra simbolizar esse sentimento que eu nem sei explicar.
- E-eu… também não sei explicar, mas… eu também penso muito em… você, Jayce.
Enquanto os dois se abraçavam com ternura, uma sombra surgiu sobre eles:
- O que pensam que estão fazendo? Jayce, como você pôde mentir pra mim desse jeito?
- Mãe! E-eu posso explicar…
Nesse momento, ela puxou o braço de Jayce, que acabou se soltando do abraço de Viktor de forma brusca, fazendo com que ele se desequilibrasse e caísse no chão.
- Quem é esse garoto estranho, Jayce? Por que estavam se abraçando? Argh, deixa pra lá, você me explica quando chegarmos em casa.
- Espera, mãe. Preciso ajudar ele a se levantar…
- Não, ele se vira sozinho, você vem comigo.
Só consegui olhar pra eles com a pior sensação que meu coração encontrou para o momento. Uma mistura de desespero, medo e abandono. Vi a boca de Jayce formando um “me desculpa…” e seu corpo desaparecendo pela rua pouco iluminada que nos levou até ali. Foi quando falei pra mim mesmo, com toda certeza do mundo:
- Ele não vai mais voltar, Viktor. Acabou.
📚 Li o mangá "The White and Blue Between Us", boys love oneshot que, apesar de corrido, consegue traduzir bem a angústia de um dos personagens.
🤹🏼♀️ Força de vontade é bobagem: também concordo que a persistência tem muito a ver com o prazer.
💁🏻♀️ Estou viva, mas não estou vivendo: sempre difícil responder "tudo bem" quando me perguntam "tudo bem?".
😔 “A sociedade te humilha se você não for bem-sucedido”: como o perfeccionismo ajuda a explicar a atual crise de saúde mental no trabalho.
🤖 O estado de poeira faz uma reflexão sobre o que é poesia autoral em um mundo consumido pela inteligência artificial.
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Adorei o novo capítulo da história. Já falei antes e reitero que adoro a forma como você escreve e descreve as cenas fazendo com que a gente consiga visualizar perfeitamente o que está acontecendo, o lugar, as feições das personagens e tudo que envolve a história. A cena da viela é bem bonita, inocente e ilustra bem o sentimento dos dois ♥
As pausas são importantes pra nossa mente e o tempo de adaptação é essencial com o que mudamos no dia a dia, né. Que bom que se animou com a news.
Estava com saudades deleeeees!!!!! Fico ansiosa pelo próximo capítulo e triste quando termino de ler, pois fico com aquele gostinho de quero mais 🥲
Sim, eu li e reli a cena da viela 💜💜💜
Eu pensando "esse meu momento é meu" happy happy happy transbordo 🎶
corta pra aquela infeliz estragando tudo 🤬 Deixa meus meninos em paz!
"Reclame aqui no Depois Eu Te Conto"